Vamos conversar um pouco sobre mudanças nos nossos hábitos de morar?
Vivemos em um movimento constante, a tecnologia se transforma a cada dia, diversos novos modelos de aparelhos eletrônicos surgem cada vez mais “inteligentes”, e os lançamentos são tão próximos um do outro que é difícil acompanhar. Mas algumas transformações acontecem a passo lentos, quando o assunto é classe social, gêneros e etnias, quando tocamos em pontos delicados políticos, culturais e históricos as mudanças não evoluem tão rápido quanto a ciência.
O assunto do artigo de hoje é para conversarmos um pouco sobre transformações, e alterações nos nossos hábitos de morar ao longo do tempo através de processos de conscientização, mudanças em nossa sociedade que, infelizmente, não acontecem tão rapidamente como as mudanças na tecnologia (não, não vamos falar sobre tecnologia ahaha).
A arquitetura é o espaço físico e concreto que reflete todas as questões culturais, sociais e econômicas que vivemos. As nossas vidas ocorrem nesses espaços, os transformando muito além de uma estrutura física, mas um lugar repleto de significados. É onde todos os nossos costumes, culturas, modos de viver e ver a sociedade se concretizam.
Até pouco tempo atrás, por volta de 1980, costumávamos construir, ainda de forma naturalizada, casas e apartamentos com quartos para empregadas localizados ao lado da área de serviço, com a metragem reduzida e sendo o pior cômodo da casa em questão de ventilação e iluminação, carregando uma clara conexão com o passado escravista no Brasil.
Demoramos alguns séculos para conseguir alterar essa prática na construção da arquitetura. Infelizmente, essa mudança veio principalmente por motivos econômicos e imobiliários, mas o questionamento desses espaços também tomaram força, e com certeza tiveram importância significativa no processo, e hoje cada vez menos os apartamentos são entregues com esse cômodo. Nos imóveis antigos esse espaço ganha usos novos mais adequados (despensa, expansão da própria casa), mas sabemos que muitas casas e apartamentos de alto padrão ainda constroem esses espaços: casas e apartamentos enormes onde o espaço destinado às trabalhadoras diaristas continuam sendo pequenos e ruins, nada apropriados a moradia de pessoas.
Essa transformação foi apenas um pequeno passo para uma sociedade minimamente empática ainda temos muitas questões a serem superadas para alcançarmos espaços anti racistas, não misóginos, não excludentes, não só na nossa prática do morar mas nas nossas falas e atitudes. Nós enquanto arquitetos, engenheiros, construtores, temos papel nesta questão também, ao projetar casas e apartamentos, de ao menos conversar com nossos clientes sobre essa prática, ou reavaliar se queremos projetar espaços assim.
Ótimo texto ! O conceito de “quarto e banheiro de empregada” é chocante, na casa dos meus pais (construída nos anos 90), até mesmo a qualidade dos equipamentos era inferior (chuveiro, box, etc) 😔 Reflete muito a nossa mentalidade escravagista.
Hoje li um artigo interessante sobre como a pandemia está mudando a nossa forma de morar: https://gamarevista.com.br/semana/ta-em-casa/questoes-para-refletir-sobre-lar-pos-pandemia/
Beijos!